“A Geração Ansiosa”: A Conexão Entre Redes Sociais e Ansiedade em Crianças

O livro “A Geração Ansiosa – como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”, escrito pelo psicólogo Jonathan Haidt, explora o impacto das telas na saúde mental de crianças e adolescentes. Chegando às livrarias brasileiras nesta terça-feira (16), a obra aborda de forma oportuna um tema cada vez mais relevante.

A ansiedade, que antes era tratada exclusivamente nos consultórios médicos, agora é destaque também na cultura popular. O recente lançamento da animação “Divertida Mente 2” ilustra bem essa tendência. O filme, lançado pela Disney no mês passado, retrata as emoções no cérebro de uma adolescente de 13 anos, com a Ansiedade desempenhando um papel central. Em poucas semanas, o filme arrecadou mais de US$ 66 milhões, tornando-se a maior bilheteria da história dos cinemas brasileiros.

No livro de Haidt, com pouco mais de 400 páginas, são apresentados diversos estudos que evidenciam como o uso das redes sociais está não apenas correlacionado com transtornos mentais em crianças e adolescentes da geração Z, mas também como um fator causal desses problemas.

Apesar da riqueza de dados apresentados – com 44 páginas de notas de rodapé e 36 de referências bibliográficas –, Jonathan Haidt consegue ser didático em seu livro “A Geração Ansiosa – como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”. O autor organiza os temas de cada capítulo em tópicos e destaca que “os custos de usar redes sociais são particularmente altos na adolescência, em comparação com a vida adulta, e os benefícios são mínimos”.

Haidt revisita o período entre 2010 e 2015, quando a vida social dos adolescentes americanos começou a ser fortemente influenciada pela presença constante dos smartphones, proporcionando acesso contínuo a redes sociais, jogos online e outras plataformas digitais. Ele denomina essa transformação de “Grande Reconfiguração da Infância”, que, segundo ele, foi a principal causa da grande onda de transtornos mentais em adolescentes no início da década de 2010.

A primeira geração de jovens americanos que entrou na puberdade com acesso a smartphones, a geração Z, mostrou índices mais altos de ansiedade, depressão, automutilação e suicídio. Este fenômeno não se limitou aos Estados Unidos; Haidt apresenta dados de outros países que confirmam essa tendência global. A geração Z, que seguiu os millennials, foi particularmente afetada, já que os millennials em sua maioria já haviam passado pela puberdade quando a Grande Reconfiguração começou, em 2010.

Superproteção no Mundo Real Também Prejudica as Crianças

Jonathan Haidt, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, destaca outro fator social que contribui para o aumento dos índices de ansiedade. Segundo ele, houve uma mudança bem-intencionada, mas desastrosa, em direção à superproteção das crianças e à restrição de sua autonomia no mundo real. Ele argumenta que essas duas tendências – superproteção no mundo real e falta de proteção no mundo virtual – são as principais responsáveis por transformar as crianças nascidas após 1995 na “geração ansiosa”.

Haidt explica como a “infância baseada no brincar” começou a declinar na década de 1980, sendo substituída pela “infância baseada no celular”. Essa transição para uma vida hiperconectada alterou o desenvolvimento social e neurológico dos jovens, resultando em privação de sono, isolamento social, fragmentação da atenção e vício.

Como Pais, Escolas e a Sociedade Podem Promover uma Infância Digital Saudável

Jonathan Haidt, em sua análise, aponta que para evitar a intensificação dos problemas causados pela hiperconectividade, é necessária uma ação coordenada, focada em medidas benéficas a longo prazo. Ele sugere quatro reformas fundamentais:

  1. Adiar o Uso de Smartphones até o Ensino Médio: Haidt recomenda que os pais não forneçam smartphones às crianças antes do nono ano (equivalente ao 1º ano do ensino médio no Brasil). Antes disso, os filhos devem ter apenas celulares básicos, com aplicativos limitados e sem acesso à internet. “Smartphones, tablets, computadores e televisões não são adequados para crianças muito pequenas, pois oferecem estímulos sensoriais intensos e absorventes, promovendo comportamento passivo e consumo de informações, o que pode atrasar o aprendizado”, argumenta Haidt.
  2. Proibir Redes Sociais até os 16 Anos: É essencial que as crianças passem pela fase mais vulnerável do desenvolvimento cerebral sem a influência de comparações sociais e influenciadores escolhidos por algoritmos, disponíveis nas redes sociais.
  3. Proibir Celulares nas Escolas: Haidt defende que durante todo o período de aula, desde o ensino fundamental até o ensino médio, os alunos devem manter seus celulares, smartwatches e outros dispositivos pessoais trancados. Isso ajudaria a evitar distrações e melhorar a capacidade de concentração.
  4. Estimular Brincadeiras Não Supervisionadas: Ele também ressalta a importância de incentivar as crianças a brincarem de maneira não supervisionada e independente, permitindo que desenvolvam habilidades sociais, superem a ansiedade e se tornem jovens adultos autônomos.

Haidt enfatiza que a humanidade evoluiu na Terra, onde as crianças aprenderam através de brincadeiras físicas e exploração. Elas prosperam melhor quando têm raízes em comunidades reais, em vez de redes de contatos virtuais. Ele conclui que crescer no mundo virtual promove ansiedade, isolamento e solidão, e que a “Grande Reconfiguração da Infância” foi um fracasso catastrófico. “É hora de acabar com esse experimento e trazer nossas crianças de volta para casa”, finaliza Haidt.

As ideias e recomendações apresentadas neste artigo foram inspiradas pelo trabalho do psicólogo Jonathan Haidt em seu livro “A Geração Ansiosa – como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”. Para uma análise mais aprofundada sobre o impacto das redes sociais e da hiperconectividade na saúde mental das crianças, recomendamos a leitura do livro de Haidt. Extraídas do site www.cnnbrasil.com.br

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